Professores da rede municipal recebem formação permanente em educação antirracista

• Atualizado há 2 anos ago

Para qualificar professores no enfrentamento ao racismo, preconceito e discriminação no espaço escolar, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semec), iniciou nesta terça-feira, 24, a II Formação Permanente para professores da rede municipal de ensino que atuam nas turmas do 6º ao 9º do ensino fundamental. Executado pela Coordenação de Educação para as Relações Étnico-Raciais (Coderer) da Semec, o encontro ocorre no Centro de Formação de Educadores Paulo Freire e segue até 26 de maio.

A coordenadora em exercício da Coderer, Marcela Silva, ressalta a importância da formação permanente. “A gente observou num diagnóstico feito com a rede que há um sério problema na formação acadêmica desses professores, tanto na formação inicial quanto na permanente, sobre a temática”.

Porém, Marcela destaca que percebe haver também “muitas práticas pedagógicas antirracistas sendo desenvolvidas na rede. Essa segunda formação é para qualificar e potencializar as práticas pedagógicas já existentes para diferentes níveis de ensino”, diz a coordenadora em exercício.

No primeiro dia de formação, os professores de Ciências Humanas como História, Geografia, Filosofia e Sociologia debateram o tema “Igreja do Rosário dos Homens Pretos em Belém: sociabilização, devoção e resistência”, com as professoras Antônia Brioso, de História e Junia Vasconcelos, de Artes Visuais, do projeto de cartografia da Universidade Federal do Pará (UFPA).

“A proposta é dialogar sobre a nossa experiência de pesquisa da Igreja do Rosário dos Homens Pretos e desvelar a história dessa igreja, a qual revela que a nossa cidade é uma cidade negra também. A cidade de Belém não é só a belle époque colonizada pelos portugueses. Viemos partilhar essa experiência de pesquisa e demonstrar que é possível fazer educação étnico-racial e as possibilidades de construir produtos educacionais na linha antirracista em todas as áreas do conhecimento” explica Antônia Brioso.

 “Quanto aos elementos estilísticos, percebemos no estudo de campo onde estava o protagonismo negro na igreja que era um espaço de convivência e não só de devoção. Visualmente percebemos que a igreja tem uma adaptação do estilo barroco mais simplificado”, acrescentou Junia Vasconcelos.

História e conhecimento

A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos está localizada no bairro Campina, na esquina das ruas Padre Prudêncio e Aristides Lobo. Ela foi erguida em 1682, sendo na época uma simples capela de taipa.

Somente em 1848 a igreja foi realmente terminada, em estilo barroco colonial, e tendo como arquiteto o italiano Antônio Landi. Após o dia de trabalho escravo, os negros se doavam para a construção da igreja.

Jocélio Jorge Barrente é professor de Filosofia e leciona nas escolas municipais Benvinda de França Messias, em São Brás e Inês Maroja, no Barreiro. Ele destaca a importância de se trabalhar mais a origem do conhecimento.

“Temos como referência de berço do conhecimento a Grécia e muito do conhecimento deles veio do continente africano. Os gregos nas suas viagens para a África tiveram contato com novos conhecimentos e levaram para a Grécia onde houve um processo de branqueamento”, disse o professor. 

Ele ressalta, ainda, que para essa formação é bem significativa, “porque a Filosofia vai tomar outro rumo na sala de aula, olhando para outros espaços de resistência e de produção de conhecimento da cultura afrodescendente”.

A professora Érica Nazaré Rodrigues Lopes leciona História nas escolas municipais Paulo Freire, no Tenoné, e Florestan Fernandes, no Bengui. Para ela é grandioso poder levar uma pesquisa como essa para sala de aula.  

“Quando a gente trabalha a África, os alunos esquecem que é um continente com várias etnias e é importante mostrar que o negro não é inferior. Quando a gente mostrar essa pesquisa que fala da irmandade, da coroação do negro, o aluno vai começar a se ver de outro jeito, diferente do que está nos livros didáticos. Eles precisam se sentir pertencentes”, destacou. 

Nesta quarta-feira, 25, a formação continua com o tema “Grafismo Indígena” apresentado por Daniel Barroso, Almires Guarani e Edilson Nery Junior, aos professores de Ciências e Matemática.

No último dia, quinta-feira, 26, o tema “Crioulização e mestiçagem nas Américas: descolonizando o pensamento e a linguagem”, com os professores Daniel Barroso e Francisco Ewerton, será destinado aos professores de Língua Portuguesa e Língua Estrangeira.

Texto: Tábita Oliveira

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