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Superando dificuldades e preconceitos, 20 alunos do projeto “Alfabetização em Movimento”, promovido pela Prefeitura de Belém, realizaram, este ano, um sonho de infância de voltar à sala de aula para serem alfabetizados. Na tarde de quinta-feira, 12, os alunos receberam os certificados de conclusão de curso, no salão Pérola, da sede Secretaria Municipal de Educação (Semec).
Radiante com a conquista, a aluna Maria Cleonice da Silva Pimentel, de 53 anos, empregada doméstica, lembra que o preconceito do pai a impediu de frequentar a escola, desde criança.
“Na colônia agrícola de Abaetetuba, eu e minhas irmãs tínhamos que trabalhar na roça, porque meu pai dizia que só os filhos homens podiam ir à escola. Com 12 anos vim pra Belém para cuidar dos meus sobrinhos. Tentei frequentar a escola, mas fiquei numa turma com crianças pequenas que riam de mim, e não fui mais. Depois, tive que trabalhar em casa de família. Cresci, casei, tive filhos e só sonhava”, conta, emocionada, e ressalta que ficava constrangida em pedir ajuda às pessoas e quando a patroa lhe pedia para escrever uma lista de compras.
“Minha filha foi quem me ensinou a assinar meu nome, porque tinha que tirar uns documentos. Quando soube do curso, fiz logo a minha inscrição. Quando a gente não sabe ler, a gente se sente cega, surda e muda. Porque a gente não vê as coisas e agora, depois do curso me sinto livre”, comenta a estudante, que já lê bem e teve aulas de artes, jogos, informática. Cleonice vai continuar a estudar, agora, pela Educação de Jovens e Adultos (EJA), da rede municipal.
Timidez – Julião Pinheiro Sozinho, de 67 anos, morador do bairro Cremação, apesar de tímido, estava muito feliz. “Gostei muito do curso. Nunca estudei, porque desce cedo tive que trabalhar para ajudar a minha mãe, que é analfabeta, a sustentar os meus irmãos. Nunca tive alguém para me incentivar. Perdi muita coisa por não estudar. Hoje, consigo ler e escrever. Meu sonho era escrever um cartão de Natal para os meus filhos”, conta Julião, que mesmo em tratamento de metástase não desistiu do curso e lembrou que queria ser juiz, quando criança. A família só soube que Julião estava participando do projeto há pouco tempo.
“Agora eles podem ler uma bula de remédio, pegar um ônibus sem precisar de ajuda e ler o apontamento do neto. Estamos orgulhosos por eles. Esse projeto foi uma iniciativa do prefeito que queria ir às pessoas para alfabetizá-las. Com a aula de informática, eles podem passar uma mensagem em WhatsApp e acessar a internet”, disse a titular da Semec, Socorro Aquino, ressaltando que agora os alunos estão preparados para ingressar na Educação de Jovens e Adultos, para concluir o ensino fundamental.
Projeto – Destinado aos trabalhadores e pessoas em situação de rua, do Complexo do Ver-o-Peso e São Brás, o projeto foi criado com recursos próprios da Prefeitura de Belém e num formato itinerante, com uma turma no mercado de Carne Francisco Bolonha, e outra no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), de São Brás.
Os alunos receberam kits escolares e foram acompanhados pelos professores Sônia Maria Koury e Dirceu Bibiano Duarte, além de técnicos da Semec. As aulas ocorriam nos horários das 14h30 às 17h30. Durante o curso, os alunos também receberam conhecimentos de arte e informática.
Alfabetização – O projeto é resultado de uma iniciativa que vem sendo desenvolvida pela Prefeitura, desde 2013, quando foi parceira do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova) do Governo Federal, suspenso em 2015. A Prefeitura de Belém alfabetizou mais de 9 mil pessoas entre 2013 e 2015, recebendo prêmio por ser a capital que conseguiu cumprir as metas determinadas naquela época.
A Prefeitura de Belém, por meio da Semec, atende, atualmente, a mais de 18 mil alunos do ciclo de alfabetização do 1º ao 3º ano do ensino Fundamental que estão sendo alfabetizados. Da Educação de Jovens e Adultos (EJA) são mais de 5 mil (35 escolas com 168 turmas); do projeto “Alfabetização em Movimento” são 20 alunos (mercado De Carne e Centro POP) e do Projovem, em duas escolas, em parceria com o Governo Federal, são 142 alunos que estão sendo alfabetizados.
Diante do resultado positivo, a Semec pretende aumentar o número de alunos e turmas para 2020 para dar oportunidade à toda população de Belém. “Não é justo um cidadão não saber ler, não é justo o cidadão ser analfabeto. E precisamos atender todos os cidadãos belenenses, paraenses e brasileiros”, conclui Socorro Aquino.