Belém vive momento histórico para a educação municipal com a certificação das 1.100 pessoas, de 15 a 90 anos, que aprenderam a ler e a escrever pela modalidade de Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Ejai) da Prefeitura de Belém por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semec). A cerimônia da entrega de certificados ocorreu na noite desta terça-feira, 25, na Igreja Quadrangular do Guamá, com a presença do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, da secretária municipal da Semec, Araceli Lemos, e de alfabetizadores e estudantes.
“O que alimenta nossa alma é o conhecimento. Obrigado por emprestar o conhecimento de vocês para nós. Vocês têm uma sabedoria, o saber popular e nós temos o saber acadêmico”, destacou o prefeito. “Quando a gente monta uma turma de alfabetização, professor ele ensina, mas ele sai enriquecido com cada fala de cada aluno porque vocês são operários, feirantes e donas de casas; são verdadeiros heróis e heroínas que nos ensinam muito. O educador é também educando. E o educando ele é um educador”, afirmou Edmilson aos alfabetizadores e alfabetizados sobre a importância da troca de conhecimento entre docentes e discentes.
Nova pessoa
Para além da entrega de certificados pela conclusão dos quatro meses de alfabetização, o encontro de jovens, adultos e idosos celebrou a liberdade de ser uma nova pessoa a partir da autonomia para ler e escrever sem auxílio de terceiros.
A política pública educacional do município é movida pelo empenho de professores da Prefeitura de Belém na busca ativa para assegurar o direito à escrita e à leitura. O Movimento Alfabetiza Belém já certificou, de fevereiro de 2021 a junho de 2024, 3.292 estudantes; com a certificação desta noite, o número de alfabetizados chega a mais de 4 mil.
Estudar para realizar sonhos
Antônia Sousa Amaral, 50 anos, é dona de casa e também desenvolve o trabalho de evangelização na igreja que frenquenta. Ela foi uma das alunas mobilizadores, no distrito de Icoaraci, convidando amigos e conhecidos para estudar.
Antônia é maranhense e chegou a Belém há 33 anos; por um período viveu em situação de rua na cidade. Alguns anos depois, a vida de Antônia se estabilizou e nos últimos quatro meses ela se dedicou a aprender a ler e a escrever, assim como mobilizou pessoas próximas a fazerem o mesmo.
“Eu comecei a ler e a escrever e tudo isso foi muito maravilhoso pra mim. Eu vim do interior e nunca tinha estudado assim. Eu pretendo continuar meus estudos porque quero ser advogada. Foi a partir desse curso que isso se fortaleceu mais em mim. Eu tava na sarjeta e o curso me trouxe uma luz”, contou Antônia com lágrimas no rosto.
O sentimento de gratidão também tomou conta da autônoma Cilene da Costa Souza, 60 anos, que pretende continuar os estudos após ter passado anos se dedicando à familia: “Eu estudei há muito tempo em Castanhal; mas chegou um momento que tive a minha familia e me dediquei totalmente a minha família. Com isso acabei deixando de lado os estudos. E agora comecei de novo a estudar. Eu me sinto feliz de ter aprendindo a escrever melhor. Antes sabia um pouco mais da leitura, agora sei os dois. Eu me sinto mais livre. Isso me faz bem porque tenho círculo de amigos. Tudo isso foi uma grande conquista porque antes eu me sentia muito triste sozinha em casa”, contou Cilene.
A dona de casa e moradora do bairro do Tenoné Sílvia Maria Barros, 54 anos, estava feliz em vencer mais uma etapa da vida: para ela, meses de estudos mudaram a vida, “porque aprendi a ler e a escrever. Antes escrevia tudo errado e agora tô muito mais confiante. Quero concluir os meus estudos. Somente agradecer pela oportunidade”, disse Sílvia.
Educação pública de qualidade
A Prefeitura de Belem, para além das parcerias com os movimentos sociais e universidades, 38 unidades educativas trabalham com essa modalidade de ensino EJAI, em 172 turmas. São disponilizadas bibliotecas, espaços de leitura, atendimento especializado, além da formação dos educadores.
A gestão municipal tem como referência a pedagogia de Paulo Freire, que, em 1963, alfabetizou 300 trabalhadores rurais em extraordinárias 40 horas na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte.
“Hoje é um dia histórico pra Belem porque estamos certificando, mas, para além de certificar mais 1.100 pessoas, nós estamos garantindo a essas pessoas um direito que lhes foi negado no decorrer da vida”, destacou o professor Miguel Picanço, titular da Coordenadoria de Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Coejai). “A Semec tem garantindo o direito, como diria Paulo Freire, de ser mais, esperançar e direito de ler e escrever que os leva a ter direito de pronunciar a palavra e o mundo. Foram quatro meses de aula, formação dos alfabetizadores em todos os distritos de Belém. Nós estamos garantindo autonomia para essas pessoas e uma vida mais justa”.
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