A pobreza menstrual é uma realidade em todo o país e também uma das causas de evasão escolar entre meninas e meninos trans. Com o objetivo de transformar essa realidade, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semec), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), esteve, nesta segunda-feira, 7, na Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental (EMEIF) Maroja Neto, em Mosqueiro, para iniciar a distribuição dos seis mil kits de absorvente íntimos para estudantes da rede municipal de ensino de Belém.
O vice-prefeito Edilson Moura destaca que a Prefeitura trabalha para combater um problema que antes era invisíbilizado. “Assumimos essa parceria desde o início do governo com o Unicef, por meio da Unidade Amiga da Primeira Infâncias (Uapi), buscando alcançar o melhor na área da saúde e da educação”.
“Hoje estamos entregando os kits de absorventes íntimos para as adolescentes, que passam, às vezes, até sete dias sem vir para aula. E muitas até abandonam a escola. Estamos tentando suprir todas essas necessidades”, declarou o vice-prefeito.
Perceria – “Meu coração está cheio de alegria de trazer o Unicef, nosso principal parceiro em várias frentes de trabalho, e agora à frente da dignidade menstrual. Que muitas empresas possam se tornar parceiros da escola pública, nosso espaço de resistência. Que a gente possa celebrar o cuidado com as meninas e os meninos trans e que a gente possa aprender, na roda de conversa, como falar desses temas que não estão no conteúdo curricular, mas precisamos discutir a saúde menstrual e a gravidez precoce”, disse a secretária municipal de Educação, Márcia Bittencourt.
A secretária disse, ainda, que deseja que as estudantes se tornem protagonistas e multiplicadoras de um novo tempo de cuidado um com o outro.
Palestra – O Unicef realizou uma roda de conversa com algumas alunas, que vão ser multiplicadoras dos cuidados para a saúde menstrual. A influencer digital, Thaynara OG, embaixadora do Unicef, participou da dinâmica com confecção de miçanga vermelha e branca, para simbolizar o período menstrual, e com orientações do guia menstrual, no qual esclarece dúvidas básicas sobre a saúde menstrual.
“A nossa missão é garantir e defender os direitos de crianças e adolescentes. Hoje, vim falar com vocês sobre dignidade menstrual, que não se resume a ter acesso ao absorvente, mas também ao conhecimento. Queremos promover um bate-papo entre melhores amigas”.
Multiplicadoras – Evelyn Vitória Santos Rodrigues, de 12 anos, que já está na idade menstrual, será uma das multiplicadoras na EMEIF Maroja Neto. Ela contou que já viu uma amiga menstruar na escola e ter que voltar pra casa por não ter absorvente.
“Fico alegre de receber o kit e ser uma multiplicadora, porque nem todas as meninas podem comprar e faltam aula porque não tem absorvente”.
A pedagoga Katherine Barbosa de Almeida relata que, em nove anos de trabalho na escola, já se deparou com infinitas realidades.
“Temos desde crianças que adoecem durante a menstruação, por conta da alimentação e medicação, e até mesmo aquelas que não têm condições de vir porque usa o pano, a fralda do irmão mais novo, o papel e, atualmente, a gente percebe o tabu das famílias que dizem ‘ela não veio porque estava nos dias dela'”, e aí agente vai buscando conversar sobre o assunto”.
“A maioria de nós, professores, tem kits de primeiros socorros e também o absorvente, porque já aconteceu de alunas precisarem. Muitas têm vergonha, medo e até nem sabem manusear o absorvente. Volta e meia acontecem essas situações”, explica a pedagoga.
A Semec, por meio da Coordenação Integrada de Educação e Saúde (Cines), atuará nas escolas realizando a distribuição dos kits de absorventes íntimos e rodas de conversas, com psicologia e assistentes sociais sobre a saúde menstrual e gravidez na adolescência, com as estudantes.
Os kits serão distribuídos para 12.134 meninas do município em idade menstrual de 10 a 17 anos, em 92 escolas municipais. Nesta terça-feira, 8, será a vez da EMEF Gabriel Lage da Silva, no Tapanã, receber os kits.
Pobreza menstrual – De acord com o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), no Brasil, mais de 700 mil meninas vivem sem acesso à banheiro e chuveiro em casa; mais de 4 milhões de meninas não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas.
Em uma enquete feita com 1,7 mil pessoas, em 2021, 60% responderam que já deixaram de ir à escola durante a menstruação e 73% sentiram constrangimento na escola, por causa do ciclo menstrual.