OS CAMINHOS DA MERENDA ESCOLAR – Agricultura familiar gera renda e garante qualidade na merenda escolar

• Atualizado há 5 anos ago

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O sol ainda nem raiou, mas seu Francisco Rodrigues de Souza, agricultor e morador da ilha de Cotijuba, em Belém, já se prepara para cuidar da horta que cultiva no quintal de sua casa. Na residência moram as duas filhas e a esposa do apaixonado pela agricultura familiar, que aos 60 anos de idade, não esconde o orgulho e paixão pela profissão. “A agricultura familiar representa tudo para mim. É daqui que eu tiro os insumos e tiro meu sustento”, conta. “O trabalho que faço aqui garantiu que eu conseguisse formar minhas duas filhas, que concluíram os estudos e, também, daqui consigo gerar o conforto da minha família”, segue emocionado.

Francisco Sousa é um dos 180 cooperados que fazem parte da Cooperativa Agropecuária dos Produtores de Belém (Copabel) e é responsável por fornecer hortaliças e frutas que compõem o cardápio da merenda escolar na capital, tais como couve, cebolinha, cheiro verde, feijão verde, cariru, chicória, alface, macaxeira, banana e limão, entre outros gêneros alimentícios.

Aos 42 anos de idade, Ivana Soares também é agricultora e toda a renda da família é retirada através do trabalho da agricultura familiar. Há seis anos, todas as hortaliças e frutas que ela retira da área que trabalha, terreno de um parente, seguem junto com a produção dos demais agricultores para alimentar as milhares de crianças que estudam nas escolas municipais de Belém.

“Me sinto muito grata ao saber que o que colhemos aqui vai servir para alimentar, de um jeito saudável, as crianças”, conta sorridente e com as mãos cheias de pimenta de cheiro, iguaria que será utilizada para o tempero da merenda escolar.

Diversos estudos apontam que a alimentação tem um papel fundamental na qualidade da saúde mental, no aprendizado, memorização, assimilação e raciocínio. O baixo rendimento escolar do estudante não é vinculado somente aos fatores comportamentais ou familiares. A alimentação faz com que tenha menor ou maior compreensão ao estudar.

Por isso, a Prefeitura de Belém dedica grande parte de seus esforços a fornecer uma merenda de qualidade para os mais de 70 mil estudantes e que, por vezes, não tem a mesma rotina alimentar em casa. E, com isso, a merenda escolar servida pela Prefeitura, por meio da Fundação Municipal de Assistência ao Estudante (Fmae) movimenta a agricultura de base familiar, gerando emprego e renda para várias famílias.

As hortaliças servidas nas 197 unidades de educação infantil de Belém vêm da ilha de Cotijuba, das mãos do seu Francisco e de dona Ivana e dos demais agricultores, que talvez nem saibam o tamanho da importância do trabalho que exercem. Todos eles trabalham em parceria com a Fmae desde 2014 e, desde então, a Copabel, que no começo só tinha 20 cooperados, só cresce.

“A cooperativa gerou empregos e fomentou a economia do município. Estamos agregando famílias no projeto e garantindo, ainda, uma alimentação saudável, sem o uso de agrotóxicos e todos com acompanhamento de profissionais para direcionar com excelência toda nossa produção”, segue Francisco.

“Conseguimos fomentar essa produção em Cotijuba, que hoje é uma das maiores fornecedoras de hortifrutis para merenda escolar. E estamos expandindo para os assentamentos que estão na região de Mosqueiro”, explicou o presidente da Fmae, João Augusto Moraes.

OS CAMINHOS

Grande parte da produção da Copabel é direcionada para a merenda das escolas de Belém, já que a cooperativa também comercializa produtos para mercados e estabelecimentos comerciais da Região Metropolitana de Belém. Anualmente, eles enviam para as escolas mais de 120 toneladas de alimentos. Entre eles, 12 toneladas de abóbora, 18 toneladas de banana, seis toneladas de cariru, seis de couve, 9 toneladas de macaxeira, 15 toneladas de laranja, 6 toneladas de feijão-verde.

Para as Unidades de Educação Infantil (UEIs), a cooperativa recebe semanalmente os pedidos através da Fmae. A colheita dos produtos que vão ser enviados é dividida entre os agricultores e, assim, todos são beneficiados.

Após a colheita os produtos são levados para a sede da cooperativa, onde é feita a primeira triagem e a pesagem. No porto da ilha de Cotijuba, um barco leva toda a produção até o distrito de Icoaraci, onde um caminhão aguarda a chegada da mercadoria, ainda no trapiche, que será diretamente transportada para um depósito em Belém. A última etapa desse processo é a distribuição para as escolas.

Após a distribuição nas escolas o trabalho prossegue com as merendeiras e merendeiros das unidades municipais. São eles os responsáveis por fazer com que o cardápio idealizado pelas nutricionistas da Fmae se torne um alimento saboroso, nutritivo e que agrade ao paladar dos pequenos.

Além do lanche e almoço, o presidente da Fmae destaca ainda que, desde 2013, as crianças podem contar com o café da manhã em algumas das unidades do município. “O projeto de café da manhã começou com recursos único e exclusivamente municipal, inicialmente, para as crianças da ilha, que acordavam muito cedo para irem à escola, e já chegavam com fome. A Prefeitura instituiu, então, o café da manhã para as crianças das ilhas e, também, para algumas escolas da cidade que estão localizadas em áreas vulneráveis”. “Hoje atendemos mais de oito mil crianças”, reforça.

PNAE – Em 2013, a Prefeitura de Belém aderiu a chamada pública, um processo que dispensa licitação, e que beneficiou os agricultores familiares do município. A iniciativa é parte do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que define as diretrizes para a alimentação nas escolas municipais. Com base na Lei nº 11.947/2009, foi estabelecido que, no mínimo, 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) devem ser utilizados para adquirir produtos provenientes da agricultura familiar.

E em atenção a esta lei, a Prefeitura segue realizando diversas atividades educativas de cunho alimentar e nutricional, entre elas, palestras, capacitações, rodas de conversas, exposições ao público e oficinas teórico e práticas com degustações.

PREMIAÇÕES – O investimento na alimentação escolar saudável levou o município, em 2017, à conquista dos três primeiros lugares da etapa regional do concurso Melhores Receitas da Alimentação Escolar da Região Amazônica, promovido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

 

*Matéria escrita com colaboração de Jamyla Magno.

Texto:

Adriana Pereira

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