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A estudante Michelle Almeida, de 18 anos, moradora do Benguí se apaixonou pelos números, ainda criança, por conta do incentivo que recebeu durante o período escolar e do apoio da sua família que, apesar de humilde, sempre buscou o melhor para os filhos.
Michelle foi estudante do cursinho Pré-Vestibular Municipal de Belém, e acaba de conquistar uma bolsa de estudos no curso de Matemática Aplicada, na Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro (RJ), uma das instituições privadas mais caras do Brasil. A conquista de Michelle foi divulgada no último dia 29 de novembro.
Trajetória – A trajetória de Michelle nos estudos começou cedo. “Desde a 1ª série, meus pais faziam contas pra eu resolver e eu achava fascinante solucionar os problemas só com os números. Quando fiz oito anos, minha irmã mais velha passou em Engenharia da Computação. Ela resolvia problemas complexos e me interessei mais ainda, porque gostava muito de Matemática”, relata a estudante que, na 5ª série, participou pela primeira vez de uma competição de Matemática, por iniciativa do seu antigo professor Camilo, da escola Waldemar Henrique e, naquela época, ela já sabia o que queria estudar.
Michelle recorda que depois da 5ª série descobriu outras matérias e que o interesse pela Matemática ficou de lado, até que, na sétima série, ela reprovou. Apesar de muito triste, decidiu fazer algo para dar a volta por cima.
Foi quando ela conheceu a Olimpíada Brasileira de Matemáticas das Escolas Públicas (OBMEP) e decidiu que queria uma medalha, porque sentiu também que poderia ganhar uma bolsa de estudos no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), na Universidade Federal do Pará (UFPA).
Medalhas – Então, Michelle, realmente, começou a estudar. “Pedi ajuda ao meu professor Flávio. E ganhei a minha primeira medalha de bronze, em 2016, no 9° ano”, conta a estudante, que depois conquistou medalha de prata, em 2017; a medalha de bronze, em 2018; e a medalha de prata, em 2019. Ela conta que também passou a se interessar por Física, a ler livros, pesquisar sobre cientistas famosos e resolveu se preparar, com mais afinco, para o vestibular.
“Com o meu desempenho na Olimpíada de Matemática, acabei recebendo um convite da Fundação Getúlio Vargas para fazer o vestibular da instituição. Foi aí que entrei no cursinho municipal e comecei a estudar. Me dediquei ao máximo, porque decidi que era o ano para passar no vestibular. Foi bem difícil, quase não tive tempo pra nada. A minha experiência no cursinho foi maravilhosa. Todo o conteúdo que vi no cursinho coube perfeitamente na prova da Fundação, principalmente, a matéria do professor Ari Machado e da professora Cláudia Galvão”, comenta a aluna.
Michelle escolheu Matemática Aplicada, área voltada para computação, robótica e pesquisa. Após passar no vestibular e concorrente com outros medalhistas, ela ganhou uma bolsa de estudos no valor de R$ 2 mil, alimentação, alojamento e passagem de avião. Michelle embarca para o Rio de Janeiro no início de fevereiro de 2020.
Família – A cozinheira Maria Lúcia Rodrigues de Almeida, mãe da Michelle, sempre foi muito presente, incentivando as três filhas. Ela ficou radiante com a aprovação da filha, e se lembra de que, quando a filha decidiu participar da OBMEP, a mesa da cozinha sempre estava cheia de livros e moça estudando até quando o sono deixasse.
“Amo ser mãe. Eu gritava pela casa toda, quando ela me contou que havia passado na FGV. Sou cozinheira. Trabalhei muito pra dar condições para elas estudarem, e acho que ser mãe é isso. Dar todo suporte, por mais que a situação não esteja legal, mas passar coisas boas”, ressalta Lúcia, que estudou até o ensino médio e chegou a passar no vestibular de Ciências Contábeis, mas parou para não deixar a filha sozinha à noite.
“Eu amo Matemática. E nunca paguei professora particular. Eu era a professora. Gostava de estar ali. Não tem como dar errado, quando você foca na educação do seu filho”, comenta Lúcia, orgulhosa.
Cursinho – O cursinho Pré-Vestibular Municipal é uma iniciativa da Prefeitura de Belém que, por meio da Fundação Escola Bosque (Funbosque). Desde 2015, quando teve início e era ligado à Secretaria de Educação (Semec), vem realizando o sonho de muitos alunos das escolas da rede pública de entrar para a universidade pública, por meio do vestibular. O professor Branco Ramos, diretor do cursinho, conta que alunos como Michelle são alunos diferenciados e que os professores têm que ter a sensibilidade para perceber e ajudá-los.
“Eles possuem um raciocínio muito rápido e existem em todo Brasil. Cabe às escolas detectarem e darem o apoio para eles desenvolverem o seu potencial. O professor tem que ter essa sensibilidade. A Michelle é sim, uma aluna diferenciada. Prova-se a aplicação dela por meio das medalhas da Olimpíada de Matemática e da aprovação na FGV”, comenta o professor, que arrisca a dizer que Michelle deve se tornar uma grande pesquisadora, após essa oportunidade.
Futuro – “Sou muito privilegiada pelas pessoas que encontrei ao longo do caminho. Pelo apoio que eu sempre tive da minha família e dos meus professores. Acho importante para a vida de um aluno de escola pública encontrar um professor que o inspire, que o considere como amigo. O professor Camilo, na 5ª série, me mostrou que sou capaz. Desejo que as próximas gerações entendam que são capazes”, conta Michele que, inicialmente, queria ser pesquisadora, mas, ao se apaixonar pela Física e pensando em contribuir com a educação, espera se tornar professora de Física em uma escola pública.