Com o tema “A escola como espaço de luta e resistência dos povos indígenas na Belém da Nossa Gente”, a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIF) Professor Ruy da Silveira Britto, apresentou nesta quarta-feira, 27, as ações desenvolvidas com os estudantes na escola durante o mês de abril. A unidade, localizada no bairro do Marco, atende mais de 500 crianças incluindo sete indígenas da etnia Guajajara, originária do Maranhão.
Para refletir e valorizar, cada vez mais, a cultura indígena e compartilhar com a comunidade escolar, a ação ocorreu na quadra da escola e cada turma expôs o trabalho desenvolvido este mês.
Teve exposição de plantas locais usadas como tratamento medicinal, alimentos indígenas, painel de desenhos e textos representativos da cultura indígena.
Literatura e cantos indígenas
O evento foi agraciado com a declamação de poemas da ouvidora do município de Belém, Márcia Kambeba, que é indígena e participou da programação, expôs os livros de sua autoria e as canções que compõe sobre a cultura indígena. Márcia é autora dos livros: O lugar do saber ancestral, Saberes da floresta, Eu moro na cidade, entre outros.
“As crianças são muito sedentas de saberes e elas são a nossa aposta para o amanhã. Se hoje nós descolonizarmos as crianças, amanhã serão adultos com uma compreensão maior e que vão poder fortalecer em outras crianças outros saberes”, afirma Márcia Kambeba, divulgadora da cultura indígena nas escolas do Brasil.
“A gente sente que as crianças já entendem isso, porque temos professores resistentes e audaciosos que levam a literatura indígena para sala de aula e conseguem fazer essa ponte. É muito importante que as escolas fortaleçam a Lei 11.645/2008, que manda que a literatura indígena esteja em sala de aula. É muito importante, principalmente aqui, em Belém, que é território Mairi, que abarcou todos os povos, não só os Tupinambás”, ressalta Kambeba.
Política de inclusão
As mães dos estudantes indígenas também compartilharam um pouco do artesanato que produzem, a partir da sustentabilidade e da pintura corporal, que varia de acordo com a festividade.
“A escola Ruy Brito teve uma sensibilidade em acolher meus filhos trabalhando a inclusão. Fico muito feliz de está sendo construída uma política de inclusão para os povos indígenas. É algo que vai valorizar a cultura do povo e o aprendizado. Me sinto muito segura em saber que meus filhos estão numa escola que está fortalecendo a cultura de forma sadia”, contou a indígena Edinária Bento da Silva (Ytahy Guajajara).
Edinária é artesã, estudante de direito, liderança do povo Guajajara Tenetehara do Estado do Maranhão e é mãe do João Virgulino, 12 anos; Cássia Benedita, 10 anos; e do Pedro Arthur Ytatupãn Bento da Silva Penha, de 6 anos.
As crianças dão uma lição de quanto é prazeroso o intercambio cultural. Maria Victória Marizê Barros Guajajara, de 8 anos, estuda no 3° ano e conta que está muito feliz de estar na escola e de fazer novos amigos.
“Eles me dão muita atenção, olham para mim como se fosse uma guerreira e pergunta da minha cultura, do que gostava da minha aldeia. Eu digo que era pescar, tomar banho no riacho e comer macaúba. Gosto muito daqui da escola”.
A colega da Sophia Torres, de 8 anos, adorou ter uma colega indígena e descobrir coisas novas, principalmente do artesanato. “É muito legal conhecer a cultura dela. Já aprendi a cantar uma música indígena e acho linda a saia colorida dela”, contou.
Educação e Interculturalidade
Em 2021, a Prefeitura de Belém instituiu a Coordenação de Educação Escolar dos Indígenas, Imigrantes e Refugiados (Ceiir), por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semec), com a finalidade de promover e garantir, a partir da interculturalidade crítica, uma educação integral com dignidade humana e territorial aos sujeitos de direitos.
Atualmente, há mais de 200 alunos indígenas matriculados na rede municipal de educação de Belém, entre venezuelanos da etnia Warao e brasileiros da etnia Xipaya e Guajajara.
“É importante que os estudantes aprendam neste mês que todos nós temos uma herança e raiz indígena. Precisamos buscar a nossa raiz indígena na família. É um dever de casa para todos nós. Parabenizo a Ceiir que está promovendo várias ações este mês em diversos territórios”, destacou a secretária municipal de Educação, Márcia Bittencourt.
“Desejo que este trabalho seja exemplo para todas as escolas de Belém e que possamos recuperar as nossas raízes indígenas e a nossa ancestralidade”, ressaltou a secretária.
Texto: Tábita Oliveira