A Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semec), realizou na tarde desta sexta-feira, 1° de abril, Dia da Abolição da Escravidão Indígena, ocorrida em 1680, a live de abertura da programação “Abril dos Povos Indígenas” com o tema ”A escola como espaço de luta e resistência dos povos indígenas na Belém da nossa gente”.
Transmissão – O encontro foi organizado pela Coordenação de Educação Escolar dos Indígenas, Imigrantes e Refugiados (Ceiir) da Semec e foi transmitido pelo canal Youtube do Centro de Formação de Educadores Paulo Freire (CFEPF).
Na abertura, a ouvidora-geral de Belém, Márcia Kambeba, que é escritora, poeta, educadora, palestrante de assuntos indígenas e ambientais, trabalha com várias linguagens das artes e com formação para educadores do Brasil e exterior de língua portuguesa, iniciou a celebração saudando todos os povos que comemoram o mês de abril indígena.
Aprender sem pressa – A educação na aldeia indígena começa desde a primeira idade, não segue padrões de sala de aula, é um aprender sem pressa, na solidariedade. Aprende que a agitação da formiga e o conto do sapo indicam que a chuva vem aí, aprende a apreciar desde pequenino um bom peixe assado com um vinho de açaí. Mas é importante ir para a cidade do branco, ir à escola, à universidade e entender que é uma forma de se conectar, de aprender outra cultura sem esquecer seu território, o seu lugar. Onde há territorialidade indígena, há educação. Porque a nossa educação dentro da aldeia obedece o tempo circular, o tempo da natureza, é uma educação milenar”, explicou a educadora.
Descolonização – A temática tratada na live trouxe à tona um movimento de descolonização, que surge pelo apelo social de debater, desconstruir verdades históricas e generalizações de estereótipos normalizados durante anos e séculos, na certeza da importância de dar visibilidade, voz e vez aos povos que sofreram um processo de silenciamento por espaços elitizados.
O professor e coordenador da Ceiir, Wender Tembé, liderança indígena do Alto Rio Guamá, relembrou a própria trajetória e como foi importante lutar pela independência e pela identidade do seu povo.
”O povo Tembé partiu de uma cultura que nem sabia seu significado. Na década de 80, nem sabia o que era indígena, era discriminado, rejeitado e passava por marginalidade cultural por não saber sua identidade. Após o primeiro encontro com outra tribo, os Tembé começaram a se estabelecer, a saber sua história, a falar e a cantar. Hoje me orgulho de saber da minha trajetória e poder repassar para meus filhos”, disse, emocionado.
Espaço de luta e resistência – Márcia Kambeba fez uma reflexão ressaltando o desafio das escolas como espaços de luta e resistência. ”Ser educador é ser ousado, porque sabemos que no Brasil a educação não dá ao professor o devido reconhecimento. Então, trazer para o espaço educacional que pode ser de luta a palavra decolonialidade. Um ensino que precisa ser reavaliado para que não digamos que hoje é o dia do índio, porque isso já foi mudado e passou a ser chamado de Dia dos Povos Indígenas. Se deixarmos a nova geração manter esse pensamento colonizador, chamando crianças de ‘indiozinho’ e ‘indiazinha’, não vamos conseguir interligar essas pontes de mundos. Esses saberes podem se conectar sem anular um ao outro”, afirmou.
O evento foi mediado pelo professor Walter Gomes Jr. e participaram os técnicos da equipe da Ceiir, Katia Tavares, Aida Soares e Núbia Alencar.
A Ceiir foi criada em 2021 para promover e garantir, a partir da interculturalidade crítica, uma educação integral com dignidade humana e territorial aos sujeitos de direitos. Atualmente, a Semec mantém mais de 200 alunos indígenas da etnia Warao matriculados na rede municipal de educação.
Dia de luta – Neste mês de abril, em alusão ao Dia de Luta dos Povos Indígenas, no dia 19 de abril a Prefeitura de Belém, por meio da Ceiir, seguirá com diversas outras ações na rede municipal de ensino.
>> Confira a programação:
– Dia 7 (quinta-feira), às 14h, haverá formação de professores, na Escola Municipal Helder Fialho, em Outeiro, com a parceria do Super Panas, do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef).
– Dia 12 (terça-feira), às 9h, haverá aula inaugural do Projeto Horta, na Escola Bosque.
– Dia 18 (segunda-feira), programação cultural na Escola Rui da Silveira Brito.
– Dia 19 (terça-feira), às 9h, a Escola Municipal Monsenhor fará uma ação com brincadeiras indígenas e às 14h, a Escola Bosque fará uma tarde cultural.
– Dia 20 (quarta-feira), às 9h, debate sobre a saúde da população indígena, no auditório do Ministério Público do Estado do Pará. Das 14h às 19h, mais uma ação alusiva ao mês da luta dos Povos Indígenas, na Escola Municipal Helder Fialho.
– Dia 27 (quarta-feira), às 9h, na Escola Municipal Ruy da Silveira Britto, a programação contará com a presença da ouvidora-geral do município de Belém, Márcia Kambeba.
– Dia 28 (quinta-feira), às 9h, mais uma ação alusiva ao mês da luta dos povos indígenas, na Escola Municipal Pedro Demo.
– Na sexta-feira, 29, às 9h, as ações da Semec vão encerrar com o lançamento do projeto Mirá Turuna, na culminância Abril Indígena, no Memorial dos Povos. O projeto conta com financiamento garantido pela Emenda Parlamentar 202142150014, que dispõe do valor de R$ 300 mil para a Secretaria Municipal de Educação (Semec) para garantir uma educação bilíngue e intercultural aos povos indígenas, conforme determina a Lei 9.394/96. A emenda foi reivindicada pelo prefeito Edmilson Rodrigues, ainda durante o mandato de deputado federal e concluído por Vivi Reis ao assumir o cargo.
Texto: Amanda Cunha