A evasão escolar é um ponto histórico tanto no ensino público, quanto no privado. Mas a pandemia da covid-19 acentuou ainda mais essa triste realidade. Em Belém, educadores municipais elaboram estratégias de Busca Ativa Escolar para resgatar alunos matriculados, que por algum motivo se afastaram da escola, assim como verificar quem ainda não conseguiu ter acesso à rede municipal de ensino.
A iniciativa é realizada todos os anos pelas escolas, porém o relatório da matrícula de 2022 revelou à Secretaria Municipal de Educação (Semec) a real dimensão da evasão escolar neste período pandêmico, com mais de 12 mil vagas não preenchidas.
O quantitativo de evasão de alunos não surpreendeu, uma vez que, ao assumir em 2021, a Prefeitura de Belém constatou uma matrícula automática na rede e logo resolveu criar parceria com o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), que junto ao Programa Bora Belém, orientaram os educadores num grande movimento de Busca Ativa Escolar Permanente com um agente social em cada unidade educativa.
Estratégias – Com a autonomia conquistada, cada escola começou a criar estratégias de acordo com a realidade do seu território. Na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIF) Professor Pedro Demo, localizada em Outeiro, a diretora Sandra Couto conta que cerca de 90 alunos retornaram à escola, um feito de 80% da evasão.
“Percebemos que alguns alunos durante a pandemia não vinham buscar a merenda e nem as atividades para fazer em casa. E no retorno presencial a mesma coisa. A partir daí fizemos contato por telefone, fomos até a casa dos alunos e, quando necessário, acionávamos o conselho tutelar. Alguns casos eram questões sociais ou a família tinha mudado e não pediu transferência”, informa Sandra.
Ela lembra que a formação com o Unicef e Bora Belém mostrou que estava no caminho certo e destaca que a criação do programa Bora pra Escola, pela Prefeitura, vem ajudando muito na Busca Ativa.
Unidades escolares da região das ilhas de Belém empenhadas no resgate de alunos
A coordenadora pedagógica, Marcele Moreira, da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIF) Sebastião dos Santos Quaresma, localizada na Ilha do Combu, destaca que os barqueiros que fazem o transporte escolar foram fundamentais para a Busca Ativa.
“Eles me informam quando veem crianças que não estão vindo pra aula e não são atendidas pela escola. São crianças que mudaram para o Acará, mas querem permanecer na escola. Recentemente, fui informada que oito crianças na localidade do Cacau estão sem estudar. E agendamos para ir lá”, conta Marcele, que já resgatou três crianças.
No Liceu Escola Mestre Raimundo Cardoso, em Icoaraci, a diretora Viviane Paiva, além de ligar para os pais e verificar o motivo do afastamento dos alunos, escreveu cartinhas para outros pais e pediu ajuda dos carteiros do bairro na Busca Ativa.
“Tínhamos 68 alunos evadidos. Foram confeccionadas 44 cartinhas e 28 retornam. Por telefone, resgatamos sete alunos e à noite tivemos mais 12 alunos. A maioria se afastou por preocupação com a saúde e falta de informação sobre a segurança na escola, por questão econômica de ter que morar com parentes e alguns não sabiam como acompanhar o ensino remoto. Mas, agora, eles se sentem seguros e estão retornando para a escola”, relembra Viviane, que ainda tem a missão de resgatar mais 21 alunos.
Ainda há escolas na rede em que os educadores vão às feiras e mercados próximos para divulgar as vagas disponíveis na unidade.
Vagas disponíveis – Das 12.235 vagas disponíveis, por modalidades de ensino, nas escolas da Semec 3.228 são da Educação Infantil, em turmas de creche e pré-escola, que atendem crianças de 0 a 5 anos. No Ensino Fundamental, ou seja, do 1º ao 9º ano, há ainda 5.391 vagas disponíveis. Na Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Ejai) são 3.424 inscrições abertas nas quatro Totalidades do Ensino Fundamental.
Nas unidades da Fundação Escola Bosque (Funbosque), que também faz parte do sistema municipal de ensino, há ainda 35 vagas na Ejai no Ensino Fundamental, 27 na Ejai no Ensino Médio, 70 no Ensino Médio e 60 vagas no Ensino Técnico.
Campanha – Em maio de 2021, a Prefeitura de Belém lançou a campanha “Fora da Escola Não Pode!” que realiza a Busca Ativa Escolar, com a equipe do programa de transferência de renda Bora Belém.
A Busca Ativa conta com três assistentes sociais, uma pedagoga e 30 estagiários de serviço social da Universidade Federal do Pará (UFPA), que vão até a residência do aluno verificar o motivo do afastamento e o interesse em retornar para escola.
As ações contam com a parceria do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) e cooperação da Fundação João Paulo XXIII (Funpapa), que enviam as demandas, além de atender as solicitações via Ministério Público do Estado do Pará (MPPA).
Desde outubro de 2021, a Busca Ativa Escolar fez 118 visitas às pessoas cadastradas no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e 123 visitas às pessoas na faixa etária da Educação de Jovens, Adultos e Idodos (Ejai), inscritos no Cadastro Único.
Até o dia 26 de maio, a rede municipal de ensino de Belém continuará realizando a Busca Ativa Escolar dos alunos matriculados e das de pessoas que queiram ingressar no ensino público.